Seu hobby pode virar sua carreira

Veja como profissionais conseguem transformar diversão em trabalho

Publicado em 14/07/2010 – 16:00

Por Larissa Leiros Baroni

Rafael Torres concilia emprego na área de informática com hobby

O consultor de informática Rafael Torres, 23 anos, divide o seu tempo entre o computador e a “pick-up” há cinco anos e pretende seguir nesse caminho por muito mais tempo. Enquanto no horário comercial se dedica à função de consultor numa empresa, durante as noites e os finais de semanas trabalha como DJ (disk jockey). “Uma profissão me sustenta e a outra me dá prazer e satisfação pessoal e profissionalmente”, resume. Atualmente, segundo ele, 80% de sua renda ainda está relacionada ao seu emprego como consultor.

Assim como Torres, há mais de quatro milhões de brasileiros que mantêm dois vínculos empregatícios. Há ainda outros 372,8 mil profissionais que se dividem entre três ou mais empregos. É o que comprova o levantamento de 2008 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esse número, no entanto, pode ser ainda maior. Isso porque existem muitas pessoas que, mesmo tendo um único registro na carteira de trabalho, conciliam mais de uma atividade profissional.

Segundo Juliana Almeida Dutra, professora de Gestão de Pessoas da Trevisan Escola de Negócios, as multi-carreiras se tornam cada vez mais viáveis tanto pelo déficit de profissionais qualificados no mercado de trabalho como pela mobilidade proporcionada a partir das novas tecnologias. “Além da existência de espaços vagos para gente competente, a Internet tem possibilitado a otimização do tempo e viabilizado a realização de diversas tarefas paralelas”, explica ela.

Mesmo diante da viabilidade, os motivos que levam os profissionais a seguirem esse caminho são variados. De um lado, aqueles que buscam exclusivamente a complementação da renda financeira. Do outro, os que investem o tempo livre para transformarem seus hobbies numa nova carreira. “A dupla jornada caracterizada por necessidade financeira, geralmente, é temporária e vinculada a um objetivo pessoal ou profissional. Ganhar mais dinheiro seja para concluir a faculdade, para casar ou mesmo para fazer uma viagem”, aponta Juliana.

Embora Torres já tenha pensado muitas vezes em viver só da música, reconhece que o meio dificilmente trará os resultados financeiros que a informática traz. “Continuarei, portanto, a conciliar as duas carreiras enquanto houver viabilidade e enquanto a Ciência da Computação permitir. Se identificar que as festas comprometem o meu desempenho profissional como consultor, terei de diminuir o ritmo como DJ e quem sabe até parar”, admite ele.

Ainda sim, é possível recorrer às habilidades de uma carreira para alavancar a outra. Essa tem sido a estratégia adotada pela advogada e fotografa Patrícia Thomé, 40 anos. Embora as duas profissões pareçam ser bem distintas, ela usa seus conhecimentos com as leis para elaborar o contrato com seus clientes. “Hoje, dedico muito mais tempo ao Direito do que à Fotografia”, conta ela, que não esconde o desejo de reverter esse cenário inviabilizado principalmente pela questão financeira. “Os ganhos que tenho com as fotos são mínimos e para ampliá-los preciso investir muito mais em meu marketing pessoal e me falta tempo para isso. Principalmente, por causa do grande consumo do Direito em minha vida”, relata Patrícia.

Planos para que a advogada concretize o sonho é que não faltam. “Na ausência de tempo, decidi recorrer à parceria com um colega. Juntos, conseguiremos alcançar resultados mais expressivos, principalmente no que diz respeito à divulgação do nosso trabalho”, diz Patrícia. Caso não seja viável financeiramente abandonar de vez o exercício da advocacia, ela pensa em aproximar mais sua carreira a seu hobby. “Sou especializada em direito trabalhista, por que não me dedicar à área da advocacia que envolve os direitos autorais?”, avalia ela.

Equilíbrio entre as profissões

Para conseguir conciliar duas ou mais carreiras, Jaqueline Silveira, coordenadora do Ibmec Carreira de Minas Gerais, recomenda que os profissionais façam um planejamento. O primeiro passo, segundo ela, é identificar aonde se quer chegar com esse e aquele emprego e encontrar um ponto de equilíbrio entre eles. “Com o aumento da carga horária de trabalho, é natural que alguma outra atividade tenha de ser sacrificada. E é nesse momento que temos que fazer opções”, afirma Jaqueline. “Para ganhar é preciso perder”, acrescenta ela.

Juliana sugere ainda que os profissionais tenham disciplina e saibam separar as duas carreiras. “Não posso, por exemplo, estar no meu papel de consultor e atender o celular para resolver um problema da minha outra função”, exemplifica a professora da Trevisan. É importante que uma não interfira no rendimento da outra. “Caso contrário, não será possível fazer nem uma nem a outra com a qualidade merecida e exigida”, ressalta Juliana. Qualidade que, para ela, também está relacionada ao estudo. “Estudo que, assim como tempo, deve ser redobrado para a garantia da atualização constante em ambas as carreiras”, enfatiza Juliana.

Os cuidados também devem ser redobrados com os limites éticos e profissionais que envolvem as carreiras. “Verifique se há conflito de interesse entre as duas atividades exercidas. Procure ficar atento ao código de ética da empresa em que trabalhe e respeite seus limites morais e éticos”, orienta Jaqueline. Assim como há empresas que exigem dedicação exclusiva, a outras que permitem a realização de atividades extras desde que não comprometam o desempenho do funcionário. “Mesmo quando a proibição não é explicita, o bom senso é o melhor parâmetro para a tomada de decisão. Não posso, por exemplo, prestar serviços ao concorrente da minha empresa”, cita ela.

A visão do mercado de trabalho em relação aos profissionais que têm uma dupla jornada ainda não é bem definida. Enquanto Jaqueline acredita que há certo preconceito dos gestores em relações aos profissionais que mantém duas carreiras paralelas, Juliana defende que há sim um reconhecimento em relação aos ganhos daqueles que conseguem conciliar mais de um emprego. “As empresas ainda dão preferência àqueles profissionais dedicados 100% a ela, que podem fazer hora extra ou mesmo uma viagem quando necessário”, diz Jaqueline.

Para Juliana, no entanto, esses profissionais desenvolvem mais facilmente visões multifuncionais. “Têm maior poder de organização, não têm dificuldade de olhar para o outro, nem mesmo de identificar oportunidades dentro de projetos. Empreendedores podem trabalhar tanto dentro como fora da empresa”, aponta a professora, que afirma que ser um bom empregado não significa ter que investir 100% do seu tempo no trabalho. “É fundamental reservar parte do dia para fazer atividades das quais se gosta e, assim, melhorar seu humor, aliviar o nível de tensão e estresse e até mesmo melhorar o desempenho do profissional”, completa ela.

Tão importante quanto saber como conciliar duas carreiras, é reconhecer a hora de interromper a dupla jornada. É o que garante Ana Cristina Limongi, coordenadora da FIA (Fundação Instituto de Administração). Segundo ela, há diversos fatores que indicam a necessidade de mudança na rotina de trabalho. “Analise o lado físico, psicológico, social e organizacional. Identifique se tem condições físicas para continuar com as duas carreiras, se está ou não realizado com ambas, se atinge ou não o prestígio social almejado e se os seus rendimentos profissionais são ou não satisfatórios”, aponta Ana Cristina.

Fonte: UNIVERSIA

Sobre orientaprofissional
Sheila C. F. Lot é Psicóloga Clínica Comportamental, com Mestrado em Psicologia, Pós Graduada em RH, Espec. em Personal e Professional Colching - Sociedade Brasileira de Coaching- Atua como coach de Carreira e Life Coach.

One Response to Seu hobby pode virar sua carreira

  1. Dan Menezes says:

    Achei muito legal essa matéria!
    Eu sou um dos que fazem isso.

    Analísta de sistemas e fotógrafo no tempo vago.
    Amo as duas coisas e tento concilia-las.

    Parabens pela matéria.

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